Descerrar as cortinas da imaginação e redescobrir o universo lúdico da infância. Esquecer mesmo que brevemente, o peso da existência, tão mais leve quando somos crianças. O riso infantil ecoa pela sala onde está a exposição “otrapalhaçãa” da escritora Eva Furnari no SESC Arsenal. A curiosidade pulsava toda vez que passava pelo corredor e via os bonecos, chapéus de bruxa, e até uma bicicleta pendurados no teto. Resolvi entrar depois de tanto admirar o que havia do lado de fora, e assim, um pé na frente do outro, me vi imersa naquele mundo criativo.

img_5562

De um lado da sala, o laboratório do professor Boris que frequentemente é alvo dos planos malignos da Bruxa Zelda. E todos os objetos dispostos compunham a cena vazia de seus personagens e repleta de pequenos significados. Desvendar estes mundos é uma aventura e tanto para as crianças, mas também para os adultos ou nem tão adultos assim como eu, que percebem-se encantados pela simplicidade mágica com que foi construído.

Do laboratório com robôs, luzes, lupas, máquina de escrever e experimentos ao esconderijo da bruxa com todos os seus feitiços, poções, vassouras de palha, um livro escrito a mão guarda sua magia. Entre os inúmeros potes de vidro, os nomes revelam o conteúdo misterioso de cada um: ovos de jiboia, sangue de vampiro, olhos de baiacu, tripas de múmia.

Eva Furnari nasceu na Itália, mas cresceu em São Paulo. A escritora assina mais de 60 títulos de livros infantis com publicações em países como México, Guatemala, Bolívia, e em sua terra natal. Também teve livro traduzido na Inglaterra. E coleciona sete prêmios Jabutis, um reconhecimento da literatura brasileira.

Seus personagens a invadem e ganham vida pelas suas mãos. A escritora passou por todo um trajeto até chegar ao que produz hoje, unindo desenho e texto. O traço começou a aparecer na década de oitenta, e antes considerado por ela como duro, ganhou fluidez e uma ingenuidade inspirada nas próprias crianças, que reproduziam seus desenhos.

unnamed-1

“Grande parte da minha vida é voltada para isso. Estou sempre pensando em maneiras de fazer as coisas de um jeito eficiente pra ter mais tempo de criação. Sou uma pessoa cada vez mais organizada por isso, porque o mundo externo, com todos os seus compromissos, não favorece a interiorização necessária para criar”, explica a escritora em seu próprio site.

Então, crianças e adultos (levem sua criança interior), este universo lúdico fica aberto para visitação até o dia 11 de dezembro.

Compartilhe!
Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

Deixe um comentário

Please enter your comment!
Please enter your name here