Os casarões antigos contrastam com os tons amarelados que vêm dos postes de luz e dão uma aura de encanto e mistério àquelas ruas estreitas. O som invade o entorno e a música faz todos dançarem. As tardes e noites ganham vida onde antes havia silêncio e abandono. Agora, as pessoas ocupam as ruas, sentam-se em mesas, conversam, comem, riem e bebem. Festejam, enfim, Cuiabá volta a bombear um dos corações da sua vida noturna.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Enquanto uns a chamam de Lapa Cuiabana, outros não a ousam comparar, pois sabem que a Praça da Mandioca e suas ruas em curva são únicas. São do solo quente e do pé rachado. A ocupação da Mandioca aconteceu aos poucos, mas não tem mais retorno. O Bar do Azambuja sempre recebeu os cuiabanos mais antigos, que faziam dali seu ponto de encontro nos fins de tarde abafados. Uma porção de pastel e uma cerveja dgelada!

feirinha
Foto: Carol Marimon

Em 2010, o Sarau das Artes Free começou a levar um público diferente e de lá para cá estabelecimentos abriram e fecharam. As pessoas descobriram a Mandioca e de quinta a domingo, a movimentação é intensa. E assim, fecham a rua sem precisar de autorização. Os corpos ocupam todos os espaços.

Foto: Carol Marimon
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E a memória me leva para vez que fui conhecer um destes primeiros estabelecimentos, que com uma proposta diferente sobrevive e resiste nesta ocupação do Centro Histórico cuiabano. Ali visitei um brechó, comprei roupas por inacreditáveis R$5. E foi o lugar que procurei quando decidi que teria uma horta orgânica no quintal de casa. Levei couve, manjericão, hortelã, temperos diversos. E é ali que sempre sou recebida com um abraço caloroso e um sorriso largo.

feirinha fotos
Foto: Carol Marimon

O Gran Bazar Pac e José Julio Tavares, o Julinho fazem toda a diferença naquilo que a Mandioca se transformou e tem a oferecer. Neste sábado, dia 9 de julho, a rua estava fechada pela comemoração de um ano da Feira Sustentável realizada pelo Julinho com parceiros e expositores que compõem uma cena muito gratificante.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

As pessoas vendem seus produtos, conversam diretamente com os clientes, compartilham algo muito maior do que apenas consumir. Chego e vejo amigos pintando pelo Movimento ROTA, Sika e Gorayeb estão lá colorindo nosso mundo.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Uma exposição de fotos em frente aos artistas que pintam ao vivo. Uma feira com produtos orgânicos a um preço acessível. Mesas com todo o tipo de produto, desde cosméticos naturais até cookies orgânicos, roupas, doces, comidinhas cuiabanas.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

A noite está movimentada. O palco montado anuncia os músicos que entoam canções politizadas, críticas, que alertam. “Não esqueçam Mariana”. O desastre do Rio Doce. Repetem a palavra sustentabilidade que hoje é usada à exaustão por um mercado explorador. Sustentabilidade, a mesma palavra que AMaggi utiliza em sua campanha publicitária para tentar vender a ideia de que não estão matando nosso Mato Grosso e sim produzindo o tal do desenvolvimento sustentável, rs.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Mas aqui, as palavras insistentes dos jovens parecem tomar um sentido real. Pequenos comerciantes, pequenos sobreviventes do sistema capitalista, que contribuem com um mundo mais socialmente justo.

A rua é toda Feira.

feirinha - adriana
Foto: Carol Marimon

Entro no Gran Bazar, um imenso grafite de Babu78 na parede desperta um sentimento carinhoso, de valorização da nossa arte. Vejo as peças de Adriana Milano e me encanto com a Nossa Sra do Egito. Converso um pouco. Vou até a sala onde acontecia o flash day de tatuagem e body piercing e volto.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Resolvo comer, um burger com batatas R$20. Volto a beber uma cerveja e curtir a Mandioca’s Square.

Foto: Carol Marimon
Foto: Carol Marimon

Quando a feirinha está para se encerrar desço até o Azambuja, pego outra cerveja e entro no tal do beco. Sento, ouço música ao vivo, converso, dou risada, vou até a curva do capim xeroso (entendedores entenderão).

E volto para casa com o coração cheio de mais uma noite doce na magia da macaxeira.

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Marianna Marimon, 30, escritora antes de ser jornalista, arrisco palavras, poemas, sentidos, busco histórias que não me pertencem para escrever aquilo que me toca, sem acreditar em deuses, persigo a utopia de amar acima de todas as dores. Formada em jornalismo (UFMT) e pós-graduação em Mídia, Informação e Cultura (USP).

3 Comentários

  1. Mariana, meu coração se alegra e pulsa em ritmo de agradecimentos por tão carinhosa percepção do que foi e é a Feira Sustentável da Mandioca. Me indicar a que o caminho percorrido, hora desanimador, é o caminho certo. O caminho do encontro, das relações, dos afetos e da fé.
    Muito obrigado. Me sinto mais cidadão do que nunca!!

  2. interessante como me vejo nesse lugar com essa descrição maravilhosa da Mari, pena que eu estava fora nesse dia (gostei muito dessa matéria que PARECE simples)

  3. Texto lindo para falar de um lugar que exala a mesma lindeza. O Júlio Tavares redescobriu e deu novo ânimo, alegria e encheu a Praça de natureza. A leveza do altar da Adriana Milano me encantou também.

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