*Por Yasmin Nobre

A ladainha dos homens de bem!

Vai devagar, para de falar coisas que as pessoas não querem ouvir!

Por que não pensa como todas as outras?

Começou a falar, cale-se!

Mas o que há por detrás de suas falas, o que há por dentro e fora de você?

Quem é você? É um ser?

Sim um ser! Então és um homem?

Se queres ser vista, aplaudida, reconhecida, deves ser um homem?!

Não és um homem, és um ser errante desprovido de lugar!

Não me diga que esta coisa possui cor! Já havia visto objetos que se denominavam gente, parecida com essa aí, mas não possuíam cor.

São ainda mais perigosas, cometem o ultraje de pensar, de agir e agora se propõe a falar.

Falam, gritam, reúnem, até possuem um corpo, embora eu não consiga olhar, só dirijo meus olhos quando se calam e voltam a ocupar o lugar na sala ou na cozinha que eu, como ser pensante digno e homem, já havia colocado!

Estou te perguntando moreninha? Responda-me!

Por quê reclamas tanto? Já não te reconheço como moreninha? Não era isso que a senhorita queria? Ser reconhecida? Aqui está seu reconhecimento! Já aceito que ser mulher é ser, e aceito que és moreninha, até reconheço que é bonita, possui traços brancos, nariz afiladinho, tem oratória boa, não deixou ser levada pelo destino de sua quase cor, deve ter puxado o pai!

Me reconhece como um ser, dizia o moço! Que quase pensou! Que quase falou algo realmente relevante, mas seu machismo e racismo condenaram seu intelecto tão superior de um doutor, cegou seu lado humano e o estruturou em um edifico falacioso de superioridade.

Mulher negra, não moreninha, mulher negra! Aquela que se formou com 45 anos, que usou das cotas para entrar em uma boa faculdade, não por quase pensar, mas por pensar de forma eficiente e entender que a construção da sociedade aconteceu com ela sendo as pedras que sustentaram o palácio das conferências que organizam o capital, que gira, cresce lucra e a deixa por baixo, observando, homens de terno, gritarem:

Vai devagar, para de falar coisas que as pessoas não querem ouvir!

Por que não pensa como todas as outras?

Começou a falar? Cale-se!

*Yasmin Nobre, 21 anos, negra, estudante do ultimo período de filosofia na UFMT. 
Adora ler, pesquisar e escrever. Natural de Cuiabá - MT.

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