Por Glauber Lauria*

I Nada me revelais, pois nada desejo saber. Tudo quanto já procurei foi vão e vã é toda filosofia, moral, ciência, religião. O conhecimento não desagrega das cousas a dor e esta prevalece num mundo em que transborda. Mártires se oferecem em holocausto mas a beleza do gesto em si gera a hecatombe. Tripudia em vão a humanidade enquanto caem infelizes por toda parte nossos irmãos. A beleza tornou-se uma miragem símbolo augusto da derrocada de nossas possibilidades. Arautos bem intencionados apregoam a paz mas se riem e cospem d’escárnio os mandatários. Abandonados à condição de néscios vogamos rarefeitos pelas cidades. Tudo quanto de nobre havia tornou-se lenda e as palavras dos bardos caíram em desuso pelo ocaso

II Nada me revelais que não o possa saber. Àquilo porque ansiava meio seio amor constante, olhos d’enlevo foi falso e injusto como vossas leis. Andei sequioso por paragens bárbaras em busca de afeto, irmãos, ideais conspurquei minha alma em paisagens putrefactas compartilhei palavras sacras com a mais vil canalha. Não canto a descrença com asco não a louvo com louros não reconheço como justa não a recomendo a outros canto o que sinto e acho e que a mim ainda parece ser pouco. Não amaldiçoo os dias nem desprezo os astros canto o que concluo e de tanto sentimento me vejo lasso

III Nada me revelais pois nada podes saber. Tudo quanto era belo rui por terra e mesmo a terra também há de ruir. Sequiosos os homens entredevoram-se e devoram também tudo ao redor – mangues florestas bosques piauís – desabrocham sempre novas mazelas e sofrem com elas sempre os mesmos infelizes. Dia-a-dia se esboroa a terra o clamor dos dilacerados faz-se ouvir. Não são quatro os cavaleiros do apocalipse não se aguarda algum algoz ou juiz desterrados estão os povos que vivem no futuro a esperar o porvir. Sem redenção remédio ou conserto Caminhamos plenos para o fundo do abismo sem fim.

*Glauber Lauria é poeta, lê, escreve e alucina aos trancos um coração decadentemente Verlaineano. Nascido em Torixoréu-MT, cursou e abandonou Museologia e História da Arte (UERJ) no Rio de Janeiro. Entrou em duas antologias de poemas em 2016, uma é marginal e chama-se “Soco no Olho”, a outra será lançada na Bienal do Livro no RJ. 

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